Dragon’s Crown se tornou a minha mistura de beat’em up
e RPG favorita. Mesmo com dezenas de horas investidas eu ainda não
consigo parar de jogar, completamente obcecado pela minha busca de mais
níveis e itens poderosos pros meus personagens.
Mas antes de começar essa análise, quero rebater um certo ceticismo que anda rolando em torno desse jogo. Como a maioria dos beat’em ups que conhecemos são experiências mais curtas com preços mais acessíveis, muita gente quer saber se Dragon’s Crown
realmente tem conteúdo pra justificar o custo de 50 dólares. E é com
toda convicção que eu digo que sim. Pra você ter ideia, vai precisar de
quase 20 horas pra zerar com um personagem, no modo normal, sem
praticamente nenhum grind. Com isso deixado claro, acho que podemos então focar no jogo em si
Dragon’s Crown é uma mistura de beat’em up 2D com RPG. A jogabilidade lembra jogos como Double Dragon e Golden Axe,
com a adição de todo um sistema de progressão em que seus personagens
ganham níveis, liberam novas habilidades e equipam itens cada vez
melhores. Pra quem conhece os clássicos Dungeons and Dragons: Tower of Doom e Shadows over Mystara, ou os relativamente recentes Odin’s Sphere e Muramasa sabe exatamente do que estou falando.
No
início o que chama mais atenção é definitivamente a arte. Alguns podem
achar os traços exagerados e a semi-nudez das mulheres algo bastante
ofensivo, mas eu pessoalmente adoro essa direção completamente oposta ao
realismo que vários jogos japoneses gostam de tomar. Achei os
personagens e cenários absolutamente bem-feitos, e a qualidade das
animações, principalmente das magias, é algo que não dá pra deixar de
notar.
Existem seis personagens pra você escolher, cada um com qualidades e
aspectos únicos de jogabilidade. Meu personagem mais evoluído, por
exemplo, é o guerreiro com escudo. Seu ponto forte é a capacidade de
defender os ataques inimigos e contra-atacar com mais dano. Com as
habilidades certas, ele pode ajudar o grupo a se proteger melhor, ou
simplesmente ser completamente ofensivo. As outras duas classes melees
têm traços parecidos, mas ao trocar pro mago ou feiticeira a forma de
jogar já muda completamente. Com a arqueira, a mesma coisa. Por causa
disso, jogar com personagens diferentes nunca passa aquela impressão de
que você está fazendo a mesma coisa. Começar do nível 1 é sempre uma
experiência nova, que só começa a enjoar quando você realmente estiver
jogando com todas as 6 classes.

Com
seu personagem em mãos, um narrador começa então a te apresentar a um
mundo medieval em que você desempenhará um grande papel. Ele vai ser te
introduzir às várias mecânicas do jogo, como a taverna, a loja,
gerenciamento de itens, quests e muito mais. Também vai contar uma
história sobre reis, dragões, e como suas ações impactam nesse mundo. Um
conto razoavelmente interessante que, apesar de muito provavelmente não
tomar o seu interesse, pelo menos faz um bom trabalho em fazer uma
ambientação.
Com o objetivo de completar quests ou simplesmente grindar, você
parte então pra um dos vários cenários disponíveis, acessados usando um
portal na cidade. Eu não quero fazer spoilers aqui dizendo um número,
mas posso garantir que há bastante diversidade. Existem fases na
floresta, em grandes fortalezas, em catacumbas. Quantidade suficiente
pra você não precisar de repetir muito pra zerar no normal.

Cada
cenário tem um bom conjunto de inimigos diferentes, quests pra fazer,
chefes únicos pra matar e ainda segredos pra descobrir. Eu gostei muito
do fato de que você precisa prestar atenção pra descobrir um monte de
coisas, mas o trabalho de controlar um cursor com o analógico do PS3 pra
abrir baús, portas e desvendar tesouros não é muito confortável em
algumas situações (imagino que no PSVita esse problema não deve
existir). Algumas das quests são tradicionais, como “matar certo número
de inimigos”, mas o número delas é muito menor do que as bem boladas
missões de desafio e segredos (prepare-se pra pedir ajuda ou olhar no
google algumas vezes). Também gostei bastante das batalhas contra os
chefes, todas bem diferentes uma das outras, exigindo sempre habilidade
ou uma boa porção do seu dinheiro pra ficar pagando pra renascer.
Você pode jogar com até mais três pessoas, online ou local. Se quiser
jogar sozinho, pode chamar a IA pra preencher esse espaço, que com
exceção de algumas batalhas consegue realmente fazer um bom trabalho na
maior parte do tempo. Jogar online é bem fácil: você pode entrar num
jogo de amigos, no meio do cenário de outras pessoas, ou simplesmente ir
jogando enquanto espera que outros ocupem os espaços do seu grupo. É
muito divertido jogar em grupo, já que todos os personagens possuem
certas habilidades que podem ser usadas pra cooperação.

Jogar
junto é sempre o preferível, mas nesse caso eu ainda tenho duas
reclamações a fazer. A primeira, menor delas, é que não tem uma maneira
fácil de jogar o modo local, que exige a criação de um novo personagem
pros outros jogadores. Não dá simplesmente pra alguém fazer um
drop-in/drop-out pra te ajudar e se divertir um pouco. A segunda é que
jogar com quatro pessoas gera situações muitas vezes caóticas demais pra
você entender o que está acontecendo. Isso ocorre especialmente quando
há magos no grupo, pois por mais que as magias tenham animações
supremas, elas acabam muitas vezes ocupando a tela inteira com efeitos
pirotécnicos. Nas batalhas contra chefes, onde eles mesmos soltam
magias, fica difícil saber o que vai te machucar e o que não. Jogando no
Hard com alguns magos e feiticeiras mais experientes, percebi que eles
geralmente evitam “encher a tela” de coisas. Mas isso é algo que nunca
dá pra garantir, e acredito que na tela do PSVita deve ser um problema
ainda pior.
Zerar é um objetivo que você vai ter em mente, mas níveis e itens com
certeza serão uma motivação muito maior pra investir dezenas de horas
em Dragon’s Crown. Os níveis não só tornam o seu personagem
mais forte, mas também te dão pontos de habilidades que podem ser usados
pra customizar sua forma de jogar. Os tesouros que você pega na
aventura vão ficando cada vez melhores, com várias propriedades mágicas
diferentes que poderão ser mais ou menos úteis pra você. E ainda tem o
dinheiro, usado pra renascer, reparação de itens e muito mais. No modo
normal o nível é limitado ao 35. Mas depois de zerar você habilita o
Hard e, por fim, o Inferno. O grind será parte do seu jogo em algum
momento, mas a facilidade do modo online aliado a algumas mecânicas
especiais pra beneficiar a repetição tornarão sua jornada bastante
prazeirosa. Tem até um mini-game de cooking que pode aparecer durante as
aventuras!

Como um verdadeiro fã desse estilo de beat’em up com RPG, Dragon’s Crown
conseguiu trazer pra mim tudo o que eu queria. Tudo ali parece ter sido
totalmente pensado pra oferecer uma nova evolução nesse gênero, e dá
certo. Até pequenos detalhes como o renascimento ou como você carrega
tantos itens são justificados e ligados a narrativa, mostrando um
carinho muito grande por parte dos desenvolvedores. Se você se interessa
o mínimo que seja por esse tipo de jogo, eu aconselho totalmente que
você vá atrás de Dragon’s Crown.
Fonte: http://muitosupremo.com.br/2013/dragons-crown/